- Política
- 19.09.2022
- Redação
Capital brasileiro precisa de estabilidade política e jurídica e das reformas, dizem representantes de setor bancário e industrial
A economia mundial se encontra em um momento de reorganização e realocação de recursos, e o Brasil está bem posicionado para aproveitar as oportunidades. Mas para isso deve fazer a “lição de casa” das reformas – tributária e administrativa – e de garantir segurança jurídica a quem queira investir por aqui. Essa foi a mensagem transmitida no painel “Os Motores do Brasil e a Segurança Institucional” do seminário “O Equilíbrio dos Poderes”, realizado pela Esfera Brasil nesta sexta-feira (19) em São Paulo.
Os participantes do painel foram Luis Henrique Guimarães, presidente da Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas), Robson Braga de Andrade, presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), e Isaac Sidney, presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
Na abertura do evento, Andrade destacou que todos os países têm buscado incentivar e desenvolver suas indústrias, cujas cadeias produtivas foram desorganizadas por fatores como a pandemia de Covid-19 e, mais recentemente, pela guerra entre Rússia e Ucrânia. A inflação global que se verifica hoje é reflexo dessa desorganização, que elevou custos não só de produtos, mas da logística. “Em 2023, a reorganização dessas cadeias produtivas vai impactar enormemente o Brasil, e por isso é preciso atrair muitos investimentos para o país, principalmente industriais”, afirmou Andrade. “Esses investimentos industriais é que vão permitir que o país avance, na questão da competitividade, da possibilidade de participar mais de um mercado internacional.”
Mas, ressaltou, para atrair esses investimentos , o Brasil tem que “fazer o dever de casa”. “Para que tenhamos competitividade, precisamos aprovar uma reforma tributária, aprovar uma reforma administrativa. Nós temos condições para isso, estamos próximos dessas aprovações. E também é preciso haver diálogo entre os Três Poderes, porque a insegurança jurídica é um dos maiores entraves aos investimentos em todos os setores no Brasil”, afirmou. Ele afirmou que essa insegurança se vê não só no Judiciário, mas também nas agências reguladoras, nas questões ambientais e em outras áreas.
Guimarães destacou que a conjuntura internacional, apesar de complexa e com todos os desafios que contém, representa uma oportunidade enorme para o Brasil: “A gente não pode perder essa oportunidade de aproveitar o momento que o mundo nos apresenta. Acho que não vamos ser perdoados pelas próximas gerações, se perdermos isso agora”.
No processo de reorganização global das cadeias produtivas, ressaltou Guimarães, os países têm dado prioridade a segurança de abastecimento e segurança energética, e não só à questão dos custos. Segundo ele, o Brasil tem uma enorme capacidade de investimentos nessas áreas. “São trilhões de dólares buscando investimentos sustentáveis e o Brasil está super bem posicionado para ser a potência verde desses próximos anos. Temos a matriz energética mais limpa do mundo, recursos abundantes, a maior floresta em pé do planeta, uma agricultura pujante. Alguns países não estão mais na lista dos investidores – e o Brasil pode crescer no índice de emergentes, atraindo esse capital”, afirmou.
O presidente da Abrasca destacou que, para isso, é importante gerar a confiança na estabilidade institucional, na liberdade econômica e no quadro político de democracia representativa. “Revisão do papel do Estado para promover um cenário de estabilidade fiscal, com independência do Banco Central, promover a estabilidade de preços, promoção da previsibilidade, da estabilidade jurídica e regulatória, todos esses [fatores] são fundamentais para o investimento em infraestrutura e outros de longo prazo”, disse. “Não podemos perder essa oportunidade. Se fizermos o nosso dever de casa, com o diálogo, esse país vai crescer, vai gerar renda, vai dirimir as desigualdades e vai prosperar, porque a gente tem todos os componentes que o mundo precisa.”
Sidney, por sua vez, destacou a relevância do tema do equilíbrio dos Poderes, principalmente devido à proximidade das eleições gerais no país. “Disputas políticas são próprias do clima eleitoral. Mas sejamos incansáveis em buscar a serenidade para evitar que a disputa democrática pelo voto acabe se transformando numa arena de ataques e agressões pessoais e mútuas. É exatamente nesses momentos em que o equilíbrio é essencial”, afirmou.
“O capital brasileiro precisa de robustez institucional, estabilidade política e jurídica. De previsibilidade. São atributos com que todos nós concordamos.” Ele chamou a atenção para o baixo crescimento do PIB brasileiro, que ficou em média em cerca de 0,5% nos últimos dez ou 15 anos. “Nós temos claramente potencial para avançar. Crescer não é uma fórmula matemática, não é um desejo de economistas: crescer é uma necessidade imperiosa, uma necessidade social. Crescimento gera empregos, gera riqueza e bem-estar social. Isso mitiga a pobreza e a miséria, e nos leva a um círculo virtuoso na economia.