O físico Albert Einstein disse que “nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou“. Nessa visão está presente, de certa maneira, o princípio científico do despertar de insights. A psicologia profunda demonstra que existe uma relação direta entre o despertar de insights e a simplificação de sistemas complexos.
O insight pode ser cientificamente definido como uma mudança repentina na formação de um conceito, que conduz à solução de um problema e ao rompimento de um bloqueio mental já existente. Esse rompimento é acompanhado pela reinterpretação ou reestruturação do problema, que conduz a novas soluções, em geral mais simples.
Simplificar problemas é um dos principais objetivos da aprendizagem (learning, na expressão em inglês). Conceitos como lifelong learning, machine learning e deep learning demonstram que a aprendizagem é a principal conexão entre a inteligência natural (humana) e a inteligência artificial (computacional). Um dos maiores desafios do nosso tempo é compreender os limites do diálogo entre essas duas inteligências, pois nesse diálogo está inserido grande parte do futuro da humanidade.
A possibilidade da existência de um agente computacional inteligente, e dentro de determinados limites, independente, é um conceito fundamental da inteligência artificial, que está, por sua vez, inserido no contexto mais amplo da ciência da computação. Scott Galloway, considerado um dos maiores professores de administração de empresas do mundo, parte desse contexto para desenvolver análises críticas sobre as chamadas gigantes da tecnologia, principalmente Amazon, Google, Apple e Facebook.
Em suas pesquisas, Galloway decifra o extraordinário poder dessas empresas de influenciar as necessidades humanas mais primitivas. Ele afirma, por exemplo, que em 1999 o Google tinha apenas oito funcionários; em 2000, começou a vender propaganda baseada em palavras-chave e, somente em 2004, fez a abertura de capital, com uma projeção de conseguir US$ 4 bilhões. Hoje, a Alphabet, empresa controladora do Google, tem uma capitalização de mercado de cerca de US$ 2 trilhões.
Google Insights
O Google é uma empresa profundamente orientada para o despertar de insights em diversas áreas do conhecimento. Sua missão é “organizar as informações do mundo para que sejam universalmente acessíveis e úteis para todos”. Uma aplicação muito interessante dessa missão foi observada recentemente no Google I/O 2022, conferência anual para funcionários, fãs e programadores que utilizam os produtos do Google.
O vice-presidente sênior da empresa, Prabhakar Raghavan, em um artigo sobre o Google I/O 2022, afirmou que a qualidade dos mecanismos de busca do Google está sendo cada vez mais refinada através do aprimoramento de tecnologias que permitam que todos os tipos de informação – texto, voz, visual etc. – possam ser acessados da maneira mais simples possível. Ele afirmou que no futuro bilhões de pessoas conseguirão pesquisar o mundo através do Google, de qualquer forma e em qualquer lugar. E disse que os avanços em inteligência artificial estão deixando os mundos físico e virtual ainda mais próximos, especialmente através do Google Maps.
Essa informação pode despertar alguns questionamentos: a simplicidade do acesso às informações pode ser considerada a essência mais profunda das pesquisas desenvolvidas pelo Google? E como essa simplicidade pode clarificar o processo de compras online, que está se tornando cada vez mais complexo e exigente?
Parte das respostas para esses questionamentos talvez estejam na DeepMind, uma empresa britânica de grande impacto na área de inteligência artificial. Depois que ela foi adquirida pelo Google, se tornou a principal companhia de deep learning do mundo. Em termos conceituais, o deep learning é considerado um caso específico do machine learning. O machine learning está inserido no amplo contexto da inteligência artificial, que por sua vez está inserido no contexto ainda mais amplo da ciência da computação. Simplificar esses amplos contextos através de metodologias inovadoras de gestão, por exemplo, é uma necessidade de bilhões de pessoas em todo o mundo e uma das principais metas das gigantes de tecnologia.
Uma das principais inovações da DeepMind foi o desenvolvimento de um software capaz de criar imagens de maneira independente, analisando imagens de uma determinada cena vista por vários ângulos previamente definidos. A partir dessa análise, o software consegue descrever, por si mesmo, como essa cena seria vista por um outro ângulo totalmente diferente. Essa habilidade pode parecer trivial, mas ela representa um profundo avanço nas pesquisas sobre inteligência artificial, pois o software desenvolvido pela DeepMind consegue, de certa maneira, criar por si mesmo uma visão própria.
Essa tecnologia pode ajudar no desenvolvimento de uma inteligência artificial mais profunda e autônoma, na qual as máquinas conseguiriam raciocinar por si mesmas na busca por soluções simples para problemas cada vez mais complexos, sem a necessidade da intervenção humana. Será que a DeepMind conseguirá um dia “fabricar insights” de maneira totalmente autônoma ou isso é tecnologicamente impossível?
Diante de tão desafiadoras possibilidades e de tão amplos questionamentos, todos nós devemos reconhecer que a simplificação dos sistemas é uma estratégia fundamental para todas as dimensões da vida humana. Na área dos negócios, por exemplo, a invenção de uma metodologia capaz de simplificar e agilizar reuniões de trabalho seria de grande impacto para milhões de empresas. O mundo vai precisar cada vez mais de mentes que desejam ser profundas (deep minds), que progridam constantemente na aprendizagem profunda (deep learning), e que jamais desistam de navegar pelo mar praticamente infinito da aprendizagem contínua (lifelong learning).
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